domingo, 3 de outubro de 2010

Projetos

A fila de projetos de teatro na Lei Rouanet é enorme.


Mesmo com a informatização do processo, os projetos demoram mais de 60 dias entre a apresentação ao MinC e o momento em que são enviados para a publicação no Diário Oficial. É a publicação no DO que autoriza começar o processo de captação.

A maioria esmagadora dos projetos que chegam a ser publicados no DO não consegue patrocínio. E a minoria das peças aprovadas pela Rouanet e que chega a ser efetivamente patrocinada, é produzida no eixo Rio-São Paulo.

Quase todas as peças que chegam a ser patrocinadas por uma empresa, utilizando a Lei Rouanet, têm pelo menos um artista famoso no seu elenco ou ficha técnica. Isso se dá porque se dá porque as empresas, que escolhem para quem destinar o seu patrocínio, levam em conta a repercussão do projeto que levará sua marca. A repercussão do projeto se mede pelo tamanho da fama dos artistas envolvidos.

No entanto, engana-se quem acha que esta filosofia atrapalha apenas a grande massa dos artistas brasileiros que não aparecem na televisão e que, portanto, estão longe de se tornarem uma celebridade. Na verdade, há dezenas ou centenas de projetos de atores famosos na fila das empresas que patrocinam o teatro. E uma grande parte deles também não vai receber um tostão de patrocínio.

Nada a ver com a qualidade desses projetos. Como disse, as empresas não estão interessadas (nem estão capacitadas para isso) em julgar o mérito deste ou daquele projeto de teatro. O que vale é a sua consagração. Vivemos em meio à indústria indiscriminada da fama. Qualquer um pode ficar (e há quem fique) muitíssimo famoso de uma hora para outra. E todos sabemos que esse fenômeno não tem nada a ver com o talento ou a importância do trabalho desenvolvido por essa ou aquela pessoa. Desse modo, um ator com quarenta anos de carreira no teatro e inúmeras novelas e filmes, pode ser ofuscado pela estrela da moda tanto quanto um novato recém-saído da CAL.

O fato é que as empresas não estão interessadas nos nossos currículos, mas no nosso presente como estrelas da moda. Então, se a estrela da moda estiver metida em um projeto porcaria ou num projeto bom, isso não é da conta do patrocinador. Ele utilizará das prerrogativas legais para jogar o suado dinheirinho público neste projeto porque este projeto é que projetará sua marca como convém. Dane-se a peça. Dane-se igualmente o público que irá (ou não irá) assistir à peça. A repercussão de um anúncio na tevê, nas colunas dos jornais, nos outdoors e em outros meios de difusão e propaganda, alcançará mais gente do que a capacidade de qualquer teatro em receber espectadores.

***

Tanto quanto das estrelas da moda, somos todos igualmente vítimas, nessa questão entre a Lei a Rouanet e o teatro, dos arranjos por baixo do pano, que beneficiam projetos onde rolam caixinhas e favorecimentos. E isto é o que há de pior.

As estrelas da moda, pelo menos, ficam expostas pela própria mídia que as favorece e seus projetos podem ser medidos e julgados por toda a gente. Já os projetos onde rolam caixinhas e favorecimentos de todo tipo, contra esses pouco se pode fazer. Sabe-se de peças que estréiam para ficar um mês ou dois e logo em seguida seus produtores as tiram de cartaz, para produzir outras que terão o mesmo fim e assim sucessivamente durante várias temporadas. Ora, esses produtores sempre poderão alegar que não houve público que justificasse a sua permanência em cartaz, como de fato acontece também aos bem intencionados. Mas separar alhos de bugalhos não está entre as funções dos pareceristas do MinC. E de quem estará?

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