domingo, 25 de setembro de 2011

ATORES

Ainda não sei a média de estréias do ano aqui no Rio. O mês que registra menos estréias de peças adultas até agora é julho, com 15 estréias. Os outros têm 17, 20, 23... Como só conto as estréias dos espetáculos para adultos (o jornal não dá as estréias dos infantis) e como julho é um mês de férias e como nas férias devem estrear vários infantis, não creio que, no geral, fique este mês longe daqueles outros no tocante ao número de peças novas que entram em cartaz na nossa cidade. Imagino que aconteça alguma coisa parecida com dezembro, quando a maioria dos espetáculos adultos dá uma parada ou acaba. Imagino, não tenho certeza. Um dia as conjecturas desse blog vão virar uma pesquisa de verdade e bem feita. Então saberemos.

Para não lidar com muitos números imaginários, já que eu realmente não sei nada dos infantis, vou botar uma média de espetáculos por mês qualquer, contando só os adultos que estréiam. Digamos os mesmos 15 de julho. Vezes doze são 180 espetáculos/ano. Até agora, na listinha que tenho feito, contei uns 250 títulos diferentes de peças em cartaz na cidade. Estamos no final de setembro. Quer dizer que pelo menos a metade disso é de peças novas. Então, ao longo do ano inteiro, não é demais estimar uns 360 títulos diferentes de espetáculos de teatro adulto acontecendo durante todo este nosso 2011.

Na minha listinha de 250 títulos adultos (que tem uma grande lacuna entre fevereiro e março, putz!, vai ficar assim por enquanto) conto 38 monólogos e 40 peças para dois ou três atores no máximo. Quer dizer que 30 por cento das peças em cartaz na cidade não têm mais do que três atores nos seus elencos. Calculando que as outras 70 por cento empreguem 4 e somando tudo, dá que o teatro carioca utilizou, até o dia de hoje, uns 900 atores nas suas peças para adultos. E empregará, até o final do ano, uns 1300, aproximadamente, continuando nessa mesma proporção.

Embora não tenha um número mais preciso dos infantis (quantos estréiam, com quantos atores e outras) dá pra fazer uma aproximação. Se o jornal estiver certo, há praticamente 1 espetáculo infantil na cidade para cada 2 adultos. Então é possível que os espetáculos infantis empreguem um número igual à pelo menos a metade do número de atores profissionais do teatro adulto. Alguém pode ponderar quanto a existência de uma certa população de amadores e estudantes nos elencos infantis. É provável. Mas também os infantis montam menos monólogos e peças com pouca gente. E mesmo considerando outro fenômeno, que na minha época era comum entre os atores, não sei se hoje ainda é, ou seja, de atores que marcam presença num espetáculo para crianças à tarde e noutro para gente grande de noite, dá pra botar aí uns 600 atores ao longo do ano, empregados em peças infantis.

Somando tudo temos 1900 atores circulando no teatro carioca este ano. Querem dois mil? Tudo bem vamos botar uns dois mil.

Agora o outro lado.

Uma única escola de teatro da nossa cidade, O Tablado, registrou para as suas 800 vagas no ano passado um total de mais de 1800 inscritos. Um amigo me disse que o SATED-RJ estimava, há uns cinco anos atrás, em 11 mil a população ativa de atores no Rio com registro profissional. E a Rede Globo de Televisão mantém uma relação de atores que conta com mais de 20 mil profissionais cadastrados (mas não em ativa, trata-se de uma espécie de “banco de atores”). Outra: circula uma antiga estimativa que considera em 500 o número médio de atores em atividade remunerada por dia no Rio (isto é, se você pensar exclusivamente no dia de hoje, haveria no máximo 500 atores efetivamente trabalhando no teatro, tevê, cinema e o escambau a quatro).

Seja lá como for, embora os meus números não sejam exatos, a realidade estimada é bastante contundente: ser ator no Rio de Janeiro de hoje é um susto, uma peregrinação, um perrengue. Há gente demais para trabalho de menos.

E ainda nem consideramos o seguinte.

Imagine que as peças nessa cidade ficam no máximo dois meses em cartaz (essa é a média). Imagine que a maior parte das televisões abertas contrata por seis a oito meses e a cada não sei quantos anos. Imagine que um filme paga um mês de trabalho e olhe lá. Imagine as tevês a cabo e mídias alternativas não garantem três meses de trabalho. Você passa, portanto, ator, a maior parte do seu ano sem trabalhar. É fato. E a remuneração?

A maior parte dos atores brasileiros que consegue trabalho consegue este trabalho fazendo teatro. As emissoras de televisão também empregam bastante gente. Mas o teatro carioca usa uns 2 mil atores/ano e o teatro paulista usará entre 3 a 4 mil. E quantos atores trabalham nos outros estados brasileiros? Ainda que se esforçassem muito, e este não é o caso, as emissoras de tevê não empregariam tanta gente. O teatro é uma possibilidade de se produzir com menos dinheiro e os atores podem tentar se virar por aí. Mas o que se ganha é pouco. Mesmo no melhor dos cenários, isto é, num grande espetáculo com um patrocínio polpudo, se a peça sair de cartaz entre a trigésima segunda e a trigésima sexta sessão, como muito acontece, como viver o resto do ano? Pagar as contas, as prestações, o plano de saúde?

Parece haver uma tendência no Ministério da Cultura em considerar o teatro como um tipo de “evento”. Devido a que as peças não duram mesmo e que os patrocínios são dados como se fossem para uns shows e coisas do gênero, que duram pouco e (ao contrário dos shows) nem têm tanto público assim. Pode ser por isso que se pulveriza o (ainda escasso) patrocínio, para fazer cada vez mais peças com menos dinheiro possível. É um tipo de pensamento que transforma a conseqüência em causa, sem se perguntar por que tudo isso começou, como chegou a esse estado e se isto é, de fato, o natural da coisa. Pior ainda somos nós, atores e produtores, que consideramos boa a condição de produzir com trinta tostões (já que em todo caso, quando há patrocínio, “não é dinheiro nosso, é do governo”) vender a cinco merréis e mostrar a cara para nossos amigos e amigos dos nossos amigos que, de resto, nem ingresso pagam.

Alguém parece ter esquecido que as platéias de teatro se formam ao longo do tempo. Que uma peça precisa existir durante várias temporadas para consolidar seu público, sua importância, seu sentido enquanto empreendimento. As políticas de cultura precisam pensar nas enormes massas de atores desempregados, de onde vêm e o que as torna tão comuns no cenário urbano moderno.

Plantar teatro não é exatamente como pescar. Não dá para esperar o tempo da desova. Ou se há desova no Rio, é preciso deslocar a pescaria para outro lugar. Não é um esforço que dependa somente dos governos, é bem verdade. Os milhões de pescadores, entre empregados e desesperados, também podem, ou deveriam, contribuir com a nova política de arrecadação e distribuição do pescado. Para isso, um primeiro passo poderia ser a desmistificação da profissão de ator. Não é verdade que somos todos lindos e que ganhemos milhões. E nada garante que vamos ganhar amanhã.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Agosto

Queridos e queridas, uns comentários rápidos essa semana. Estou cheio de projetos aqui pra tocar. Dinheiro nenhum, mas o que importa? E, também, as coisas que eu digo aqui na verdade são variações em torno dos mesmos temas. Sempre dizendo a mesma coisa de modos diferentes. Mas é o tal negócio, de tanto falar e falar de novo e de novo e de novo, das duas uma: ou melhoro a minha redação, ou melhora o mundo.


Fechamos o mês de julho. A minha lista de peças (eu faço um acompanhamento de peças) tem um furo no mês de março, justamente o mês com maior número de estréias, não acompanhei como devia o mês de março. Vou tentar conseguir a relação das peças que estrearam e das que re-estrearam e das que saíram de cartaz em março desse ano. Tem algumas lacunas na minha lista. Seja como for, contei 200 peças até agora, do começo do ano até agora. Só valendo final de semana. Com outros furos, além do mês de março. Às vezes comprava o jornal de sexta, às vezes o jornal de domingo. Na maioria das vezes o jornal de domingo. E tem peça que não sai listada no jornal de domingo, mas sai no jornal de sexta. E vice-versa. Melhor assim, porque se o jornal listasse todas as peças ao mesmo tempo, não tinha lugar pra Amy.

Ah, sim, estou contando aí os infantis. Sem os infantis andamos na base de 60 peças por semana em cartaz. É razoável, suponho. Tem as de meio de semana também, essas não sei quantas somam. Ah, sim, também tem duas semanas do mês de abril que não estão na minha lista. Ou seja, minha lista é uma merda. Mas é a que temos. Ou a que eu conheço, porque talvez outros estejam fazendo esse levantamento. É razoável. Mais de 200 peças no primeiro semestre. Sabem quantas ficaram em cartaz os sete meses? Alguém arrisca? Eu digo aqui. Não é cem por cento certo, alguma delas pode não ter estado em cartaz em alguma semana que eu não cobri, nos meses de março e abril. Mas foram 5. Isso. Das mais de 200 peças adultas em cartaz no Rio de Janeiro no primeiro semestre de sete meses do ano de 2011, exatamente 5 ficaram em cartaz o tempo todo, sem tirar. Não se pode dizer que foi a minoria das peças. Minoria de 200 não é 5. 5 não é nem 5% de 200. 5 de 200 é o mesmo que nada. Mas não se preocupem. Até o final do ano esse nada tende a ficar mais nada. Pelo menos 1 dessas 5 peças saiu de cartaz no último 31 de julho. Bom, mas talvez ela volte. Sempre há esperança que volte.

As outras ficaram menos de 2 meses em média. É isso aí. Esse ano a média caiu para menos de 2 meses. Com toda a imprecisão dos meus dados, dado que sou impreciso mesmo, isso é fato: em 2011 as peças ficam menos de 8 semanas em cartaz. Em média. Também aumentou o fracionamento da semana. De modo que o número de peças pode ser bem maior do que as minhas 200. A semana de quinta a domingo ainda existe no Rio e bastante. Mas aumentam os sexta a domingo, os terça e quarta, e apareceram também muitos quinta e sexta e alguns só segunda. Sinal que as pessoas estão procurando um buraco na programação. Sinal que há buracos e mais buracos na programação. Tempo curioso. Muitos produzem para poucos verem e ninguém ficar em cartaz.

O mundaréu de peças é uma faca de dois gumes. Se fossem 200, 500, 1000 peças, mas estivessem sempre lá, um dia poderíamos assistir todas elas. Mas são poucas e fugidias. Ou você vai na estréia, ou na semana seguinte. Ou então não vai mais. A mídia não dá conta de divulgar e nem nós de anunciar. Os anúncios de jornal são impossíveis de fazer. Muito caros. Só tem um jornal na cidade, então ele cobra o que quer. E reclama que não anunciamos. Vai piorar, digo eu. Muito. O boca a boca tem que ser rápido, não pode demorar, porque não há tempo. E os artistas se dão por satisfeitos com 15 pessoas na platéia. Outro dia uma amiga me perturbou que eu tinha que ver a peça tal, que a peça tal era o máximo e a prova de que era o máximo é que estava lotando. Quantas pessoas, eu perguntei, por sessão? 50. Bom, cinqüenta é melhor do que 15, então deve ser boa mesmo.

Pra se destacar na multidão tem que ter os 7 milhões do Violinista no Telhado. Não temos. Não temos 70 mil. Não temos 7. Voltamos ao tempo do Livro de Ouro, recebi outro dia uma petição pra assinar o Livro de Ouro de uma peça de teatro. Bacana, eu pensei, coisa de aluno de escola de teatro. Não era. Ficha técnica profissional. Acho que estamos virando americanos nisso também. Nos Estados Unidos tem zilhões de Livros de Ouro produzindo peças profissionais. Alguém dirá que não é vantagem. Não com o dólar a 1 e 50.

Agora vem o FATE, da Prefeitura, com 14 milhões. Bom. 14 milhões são dois violistas e nenhum telhado. Mas é pra um monte de gatos pingados. A idéia é essa, democratizar o investimento. Boa idéia. Democracia de fudidos Municipais contra a ditadura de 3 ou 4 que pegam a maior parte do bolo Federal. É um cabo de guerra e advinha quem vai ganhar? Não serei eu, certamente. Tudo pra projeto de peça nova. Bacana. Por que as velhas ninguém viu mesmo, então vamos fazer outras, quem sabe?

O assunto é esse, é o de sempre. Mas hoje escrevi um pouco diferente de ontem e de anteontem. Ótimo, sinal de que estou melhorando como escritor.

Ou não?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A QUESTÃO DA QUALIDADE

Respondendo à segunda questão, de M.S. do Rio de Janeiro, que pergunta sobre a qualidade dos espetáculos, se perdemos as referências, que ele mesmo não sabe mais quando um ator é bom ou não é bom...


Acabei demorando mais do que pensava a continuar com esses últimos assuntos. Normal. Estive (e ainda estou) às voltas com a nova temporada de LINDA, no Teatro dos Quatro, tentando colocar gente lá pra assistir às terças e quartas, às 19 horas. Não é uma tarefa nada fácil. NINGUÉM mais vai ao teatro às terças-feiras, quer dizer, como parte do hábito de ir ao teatro. É quase impossível. Às quartas ainda tem um e outro, mas mesmo assim... Não faz muito tempo as pessoas viam peças de terça a domingo no Rio de Janeiro. Claro, era tudo muito diferente, parece. Tinha menos peças, os atores ganhavam menos, os produtores pegavam dinheiro emprestado em banco pra produzir e pagar depois... Mas, de trinta, vinte e cinco anos pra cá as terças caíram. E depois caíram as quartas também (em São Paulo já quase não se faz teatro às sextas, quero dizer, uma temporada de sexta a domingo em São Paulo é difícil de se encontrar). Mais tarde, com o número de espetáculos aumentando, outras peças acabaram ocupando esses antigos horários – que viraram os horários alternativos. Mais ou menos assim que se sucedeu, me corrijam os que sabem mais.

Então este hábito de ir ao teatro no meio ou no começo da semana se perdeu e hoje é uma lenha um pequeno produtor convencer algumas pessoas a ver seu espetáculo numa terça ou numa quarta num teatro da zona sul carioca. Claro, se eu fosse um artista famoso seria um pouco menos difícil. Mas mesmo assim. Um artista famoso não praticaria o meu preço, não se conformaria com apenas dois dias também. A favor do artista famoso na terça e na quarta apenas que a mídia lhe renderia um pouco mais de atenção. Todos os cadernos de cultura, rádios, tevês, etc. estão com seus olhos voltados para a cidade do fim de semana, enquanto a cidade da quarta, das terças e das segundas, fica por aí, ao léu. Agora, se os produtores em geral, mesmo os grandes, já reclamam do pouco espaço para o teatro nos meios de comunicação em relação às suas temporadas de fins de semana, imagina nós outros, ali, entre outros tantos alternativos das terças cariocas.

E a terça não é má, sabiam? É mais fácil chegar e sair de um teatro na terça do que na sexta, por exemplo. Aliás, na sexta está ficando impossível. Os produtores, programadores culturais, o secretário de cultura, ministros e outros, deveriam repensar a estratégia de distribuição da população das grandes cidades pelos pontos de cultura e diversão às sextas-feiras. Poderiam estimular a freqüência intra-bairro, o uso do transporte coletivo, rever os horários dos eventos, etc. Porque, já a partir do final da tarde e até não sei que horas da noite, a cidade simplesmente dá um nó e ninguém vai a lugar nenhum. E não é só na zona sul não, é em qualquer região, qualquer região. Confiram os borderôs. Há anos que as sextas-feiras são ruins para o teatro carioca. Já há peças por aí fazendo temporadas à paulista, de sexta à domingo. Eu sugiro que incluam a quinta e pulem a sexta. Ganhariam mais.

Mas era pra responder à pergunta do colega acima, comecei a falar da minha peça, enveredei por essa história de dias e horários e não parei mais. Ok, vou lhe dar alguma atenção no espaço de tempo que me resta (preciso voltar ao telefone e às Redes Sociais para tentar convencer umas tantas pessoas, na marra, a assistir o meu singelo espetáculo na Gávea).

A pergunta do meu amigo sobre a qualidade é porque temos chamado a atenção aqui para um possível aumento descontrolado no número de espetáculos na cidade, que poderia estar diminuindo o cuidado com a qualidade do que está sendo produzido. Meu caro L.S., não há como garantir uma relação de simples causa e efeito entre as duas coisas. Há temporadas boas e más, em termos de qualidade, alternando-se ao longo do tempo em todos os lugares do mundo. Um ano vamos bem, surge um movimento, um artista importante, uma peça nova, uma interpretação brilhante. Outro ano vamos seguindo a viagem sem nem olhar pela janela porque a paisagem não é nada atraente. As coisas são assim e não parece que, a não ser que surja uma outra renascença, deverá ser muito diferente no futuro. E isso não parece estar diretamente relacionado ao número de peças de teatro que se faz por aí. Claro, deve ter havido um aumento no número de espetáculos de oportunidade. Sem dúvida a indústria do patrocínio fomentou o surgimento de uma classe de espetáculos feitos com o único propósito de garantir uns salários e umas tantas comissões aqui e ali. Mas também é possível que muitos artistas envolvidos nesse tipo de empreitada houvessem por bem lhes garantir um mínimo de qualidade e substância artística. A meu ver o problema com o aumento na produção de peças é parecido com o aumento da população sem que se cuide, ao mesmo tempo, da infra-estrutura necessária para abrigar, alimentar e prover as novas populações de um mínimo de condições de subsistência. Este é que é o ponto.

Se as peças são boas ou não, é um pouco menos importante. Há, nos Guias Offs de teatro no Rio e São Paulo uma interessante introdução alertando que o espectador poderá, eventualmente, errar na escolha das peças que vai assistir (supondo que ele assista a mias de uma, claro). Mas está certo esse sujeito, isto faz parte da coisa. Como às vezes pagamos para ver um grande espetáculo de futebol e assistimos a uma pelada e nada mais. Porque mesmo os melhores espetáculos da cidade têm seus dias ruins, quando o ator principal não acerta uma única nota ou a bailarina tropeça na segunda cena. E, por outro lado, peças ruins também podem nos apresentar a um ator brilhante que ainda não conhecíamos ou nos revelar outros valores quaisquer. Além daquela velha discussão do que é bom para um não ser para outro e por aí vai.

O problema é não podermos ver todas essas peças e compará-las. O problema é elas não sobreviverem o suficiente para que as vejamos e para que possamos confrontar nossas opiniões sobre todas ou pelo menos sobre a maioria. Que não existam estradas que nos levem até elas, médicos que as prescrevam a nós com segurança, televisões e rádios e jornais e revistas que as divulguem, críticos que as critiquem, e, pessoas, muitas pessoas, que as assistam conosco todos os dias, de segunda a segunda, ou até que fiquemos cansados.

Quanto à qualidade dos atores, não se preocupe, eu também não sei.

terça-feira, 24 de maio de 2011

COMENTÁRIO DO NEY MOTTA AO POST ANTERIOR

Gil, está é uma questão que eu me debruço a tempos. Sim faltam salas! Sim o tempo de temporadas precisa aumentar! Sim o público precisa ser estimulado a assistir teatro! Ou melhor, teatros, pois são vários os estilos e gêneros. Mais a conta nunca vai fechar, pois vai continuar faltando espaços para tantas peças que se deseja montar. Em São Paulo mesmo com a grande quantidade de salas, lá eles também reclamam que é pouco. Acontece que lá alguns hotéis tem teatros; quase todos os instituots tem teatros; as redes do SESI e Sesc tem muitos teatros no estado todo; mas, principalmente, grande parte das cias de teatro tem seus próprios espaços teatrais. Na minha análise este último ponto é fundamental. Você vê por exemplo a Armazém Cia de Teatro, eles fazem suas estréias nos teatros da cidade, mas podem continuar com a temporada no seu próprio espaço. É disso que precisamos, que os grupos e cias tenham seus espaços. Outra coisa que eu defendo é que sejam criados aqui prédios (no plural mesmo) como o Centro Cultural São Paulo, onde os grupos que não tem seu espaço podem ensaiar e se apresentar. É um prédio plural (2 teatros, cinema, biblioteca, inúmeras salas de ensaio, etc) que oferece arte e cultura ao público e aos artistas um espaço para experimentação e encenação. Como eu também já disse, Lona Cultural serviu para um momento histórico na cidade do Rio de Janeiro, hoje elas deveriam ser doadas a grupos e a Prefeitura deveria investir em espaços como o Centro Cultural São Paulo. A discussão é boa.







Ney Motta

sábado, 21 de maio de 2011

DUAS QUESTÕES – A PRIMEIRA

Respondendo a duas observações feitas pelos leitores a partir do post da semana passada. A de hoje é sobre essa questão da quantidade de peças.


1) O sujeito aqui reclama que eu estaria sugerindo que diminuíssem o número de espetáculos em cartaz no Rio, que eu estou nadando contra a corrente e enfraquecendo o movimento...


Não, não, acho que estou sendo mal compreendido. Esse negócio de blog é legal, mas o espaço nunca é suficiente. Bacana seria uma tese, um livro, sei lá, alguma coisa mais consistente. Mas no momento, é o que temos. Então usemos.

Nunca falei aqui nada contra o número de peças. De repente posso ter dado essa impressão pelo tom algo espantado como me refiro à coisa. Mas é porque eu imaginava menos peças em cartaz e acho que me surpreendi quando comecei a contar. Não sei se 54 espetáculos profissionais adultos (essa é a média do presente mês de maio) por final de semana é um número alto ou baixo para a cidade do Rio de Janeiro. São Paulo, dizem, tem mais de 150. E o fim de semana teatral em São Paulo tem um dia a menos que o nosso. Mas, também, lá também parece ter muito mais salas de espetáculos (ou não?). Quem sabe se tivéssemos mais salas de espetáculos ou tantas quanto eles ainda teríamos mais peças de teatro em cartaz do que São Paulo? Quem sabe?

Comparo com São Paulo e não sei se é a melhor comparação. Ou se deveria estar comparando com Nova Iorque, Paris, Cidade do México, Madri, ou Buenos Aires. Qual dessas cidades se parecerá mais com a nossa em quantidade de peças/habitante interessado em assisti-las? Ou em termos de fomento, em quantidade de grupos e de produtores independentes? Seja como for, não tenho como afirmar se esse número de peças em cartaz aqui é demais ou de menos para os cidadãos cariocas.

O que acho sim, fora do normal (mas o que será o normal?) é o tempo que cada uma dessas peças, em geral, tende a permanecer em cartaz. Senão vejamos.

Considerando os cinco primeiros meses de 2011, o Rio de Janeiro já apresentou ao seu público um número superior a 200 títulos de espetáculos teatrais. Entre os que estrearam este ano, os que vieram do ano passado ou de anos anteriores, reestréias, espetáculos de mostras, produções locais ou de outros estados, etc. Aliás, como deixei de contar algumas semanas, acho que 250 títulos é, na verdade, uma estimativa mais realista.

E só estou falando, bem entendido, de fins de semana. E de teatro adulto. Nada contra os outros dias da semana, nem contra o teatro infantil. Faço isso só para delimitar um pouco a amostragem. (Contando também os infantis, a média de espetáculos no Rio por final de semana é de setenta e poucos).

Se considerarmos que, na cidade toda, contando direitinho, só vamos achar umas 50 salas ou “espaços” em condições de receber esses mesmos espetáculos em cartaz... São cerca de 5 espetáculos por sala. Em cinco meses: cada espetáculo tem exatamente um mês, em média, para se apresentar. Logo, cada peça que ultrapassa esse tempo de permanência (e algumas conseguem) empurra umas tantas outras para novos espaços, para fora do cartaz, para os horários alternativos ou sei mais para onde pode ir uma peça a procura de público nessa cidade. Há falta de salas? Bem, parece evidente que há falta de salas. Mas os espetáculos se acotovelam de fato apenas pela falta de salas? E, se houvesse mais salas, durariam mais tempo em cartaz?

Como quase tudo aqui nesse blog, sem a metodologia adequada, sem números confiáveis, sem uma pesquisa séria e consistente, o que podemos fazer com o que temos, é estimar, imaginar e aproximar nossa imaginação do real.

Se houvesse uma relação mais simples entre o número de salas existente na cidade e a quantidade de espetáculos que produzimos, a tendência seria diminuir o número de espetáculos numa proporção pelo menos assemelhada ao número de salas que se fecham. Ou só aumentar o número de peças na medida em que aumentassem o número de “espaços” para abrigá-las. Não é o que se observa, no entanto. O número de espetáculos este semestre cresceu quase 10% em relação ao semestre passado (de 45 para 50). E a única sala nova que me lembro que abriu nesse mesmo, e há menos de 15 dias, foi o Teatro Poeirinha, em Botafogo, com capacidade para 70 pessoas.

Isso de público também é um indicativo que funciona ao contrário no teatro carioca. No semestre passado a média de público me pareceu (pelo que me diziam os produtores, como é difícil fazer um estudo sem números!) acima da média desse semestre. E, assim como no caso das salas, a produção da cidade parece ter ignorado essa retração de espectadores. E continuou aumentando. E quando vai parar de crescer? E em função do que deve realmente aumentar?

Um elemento importante na elevação da média de espetáculos em cartaz na cidade neste semestre, com o conseqüente aumento no rodízio de peças nas salas disponíveis pode ter sido o maior aporte da verba de fomento do município - a última edição do FATE foi generosa. Isso deu uma estimulada extra na produção. E, além disso, estávamos contando com os editais do governo federal, que estão atrasados até agora. Claro, o edital da Prefeitura não deu conta de tudo. Mas, com projetos em andamento e sem outra saída, muitos produtores podem ter optado por realizar os seus projetos mesmo sem receber os patrocínios que contavam.

Seja quais forem as causas, o fato é que, neste semestre, aumentou a pressão de uns espetáculos sobre os outros, com a conseqüente diminuição das temporadas médias para abaixo das “históricas” 32 semanas. Pode ser sazonal. Pode ser que, no próximo semestre, haja uma retração e voltemos aos números mais “razoáveis” de temporadas anteriores. Mas quem pode considerar saudável um teatro com a maioria das peças se espremendo em temporadas de até dois meses no máximo?

Ou talvez seja mesmo assim no mundo inteiro e nós não tenhamos nada de incomum com relação ao que se faz em outros lugares deste mundo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Voltando... e voltando

Estive fora esse tempo todo porque estava às voltas com LINDA, que estreou, fez uma primeira temporada no Espaço SESC Copa, terminou a primeira temporada e se prepara para a segunda, oxalá assim seja e seja boa, no Teatro dos Quatro, na Gávea, às terças e quartas, 19 h, a partir de 07 de junho. LINDA é uma boa peça e um espetáculo bom. Estreou mal, não fizemos uma boa estréia e sabemos disso. No dia seguinte já era ótima, mas a estréia não foi. Não tínhamos nunca feito com público, erramos a mão, o tom... Enfim. E pagamos o preço de uma estréia ruim: pouca gente de teatro foi assistir a essa primeira temporada, não tivemos crítica, essas coisas. Aliás, tivemos sim, uma crítica do Macksen Luiz no blog dele, ia me esquecendo. Nem boa nem má. E ele viu depois da estréia num dia que, pra nós, foi bom.


É curioso como nós, de teatro, não entendemos muito de teatro. Tirando talvez um crítico ou outro, tirando um diretor ou outro, algum ator mais estudioso, dedicado. Digo "não entendemos de teatro", mas não estou me referindo só aos assuntos favoritos até aqui neste blog - números, estatísticas, história recente, essas coisas. Digo que não entendemos nada quanto ao "objeto" propriamente. Foi uma lenha ensaiar LINDA. Eu não dirigia uma peça há mais de uma década, achava que era como bicicleta, que a gente não esquece como anda nem depois que morre. Mas não é. No primeiro mês ensaio ainda consegui me virar. Mas em algum momento deu um tilti e, caraca!, eu tinha esquecido tudo. Nem tanto a parte teórica, essa eu continuei exercitando ao longo dos anos, mas parte prática... meu Deus do Céu, era ruim demais da conta aquilo, seu. Salvou-me do desespero total o "colega" Aderbal, este sim homem dos mais entendedores do assunto em atividade por aí (que, aliás, também estréia um espetáculo dele nessa quinta-feira).

Produzir teatro se tornou uma coisa relativamente comum nos dias que correm. Todo mundo reclama que está difícil arrumar patrocínio e que não se tem dinheiro. Mas no século passado era muito pior. Nunca antes na história desse país... A média de espetáculos adultos profissionais em cartaz no Rio de Janeiro nesses dois últimos meses ultrapassou as 50 peças. Semana passada eram 63( só no fim de semana). E, com todas as dificuldades, as pessoas continuam estreando. E graças a Deus a grande maioria dos espetáculos não vai muito longe. Digo "graças a Deus" (com uma grande dose de ironia, claro) porque não haveria sala pra tanta peça junta, se elas não morressem logo (quanto mais público). Quando alguém se der à pachorra de fazer um estudo sério (ou quando se criar um instituto que se proponha a estudos sérios) deverá descobrir que o teatro se popularizou mais nos últimos anos como coisa a ser produzida do que a ser assistida. Duvido que o público das peças cresceu (se é que cresceu) na mesma proporção do número espetáculos que vão entrando e saindo do cartaz.

Produzir peças se tornou uma obsessão e uma necessidade imperiosa do sistema. E nisso, a qualidade, o tempo que temos para treinar e aprender a fazer peças melhores, bom, isso vai pra cucuia. O que importa é fazer. Conseguir uma grana, fazer a peça, matar aquele público (quando tem) fazer outra peça, conseguir outra grana... E por aí vai. E, mesmo quando não temos grana de patrocínio, produzimos com a lógica dos que têm, que se tornou a lógica-modelo de mercado. Nisso, a nossa acuidade dança. Quem treina? Quem critica? Quem é capaz de inventar com tanta peça uma atrás da outra pra fazer? Tenho um amigo cenógrafo que, até o mês de março, já havia estreado nada menos que 8 peças no Rio de Janeiro. Pô, vai ser criativo assim lá na... Tenho outro amigo que é diretor que, a essa altura do ano, deve estar pela sua sétima, oitava encenação também. E tudo peça descartável. Tudo peça que, no semestre que vem, ninguém nem lembrará que já existiu. Só no final do ano, quando saírem as indicações a prêmios é que alguém sentirá falta - "Pô, mas não me indicaram". "Não, cidadão, eu sequer te assisti. Não houve como."

E dá pro crítico ser bom no meio de tanta coisa pra ver? E dá pro artista fazer um trabalho bem feito? E dá pra sobreviver com a fórmula produzir rápido e com pouca gente (pra aproveitar a grana que tem) antes da próxima peça?

Foi atrás desse bonde que eu fui, sem dúvida. Uma peça com dois atores, pra produzir com o dinheiro que tem (e não tem) e no tempo que der. Claro, depois de dez anos sem encenar, eu precisava de um tempo bacana pra ensaio, pra redescobrir do que se trata o teatro, como faz e por que. Aí, quando me apertaram o tempo (um dia, o produtor apareceu e disse: arrumamos o Sesc e é pra daqui a tantos dias, obaaaa!!!) nesse momento faltou o estofo e quase afundei... E quantos outros não estarão afundando por aí, sem um gênio que lhes estenda a mão?

Perdemos a capacidade crítica, afinal (se um dia a tivemos). Que o público não saiba a diferença entre o bom e o mau teatro, ou, no mínimo, a diferença entre teatro e não-teatro, vá lá. Não são obrigados a saber disso, aliás pagam para não saber, só para desfrutar. Mas que nós, profissionais do ramo, não saibamos, isto sim é um problemaço. É muita peça, muita falta de referência, muita produção travestida de arte, muita lábia, lobby, muito túnel e pouca luz. Ou seguramos o bonde, ou vamos bater no próximo poste (com Ronaldinho e tudo).

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

MEU AMIGO GUILHERME

Essa semana passou aqui em casa o meu amigo Guilherme Diniz. Grande Guilherme Diniz, artista plástico, dos bons, formado na EBA da UFRJ, colega de alojamento do Fundão, mais do que isso, amigo de juventude de Além Paraíba. Grande Além Paraíba, como diz o poeta, cidade de onde já saíram tantos grandes valores e de onde ainda sairão muitos outros mais (ninguém fica lá). Guilherme Diniz, petista das primeiras horas, ex-vereador alemparaibano, contestador, brigão, brigou até com o PT, saiu, foi dar no PSTU, hoje eu não sei com quem anda flertando o Guilherme, esqueci de perguntar, falamos de tantos assuntos, dois anos que não nos encontrávamos, não há tempo pra lembrar de tudo.

Grande Guilherme, quebrando a cabeça, artista plástico no Brasil, morando em Além Paraíba, Angustura pra ser mais exato, não é nada fácil, estamos sempre sem dinheiro, não é fácil arrumar dinheiro. Também fareja os editais, conhece os editais (há editais para as artes plásticas também, claro, há editais para pintar o sete) e Minas tem ainda a lei Robin Hood, isenção fiscal, mesmo lance. Guilherme sempre me atualiza em relação às artes plásticas, eu sou uma besta dramática, sei do teatro e olhe lá. Me explicou sobre as Câmaras Setoriais, que o governo tenta que município, estado e federação falem a mesma língua, claro, é como tem que ser, um precisa saber do outro, não tem como.

Mas quando eu conto as nossas peculiaridades, como é, como vive o teatro, é difícil entender, mesmo para o brilhante Guilherme (Guilherme é brilhante, tem grandes idéias para a arte e a cultura no Brasil, mora em Angustura, ninguém lhe presta atenção, este é o mal do país). Então eu explico, tento explicar, não sei se sou claro, sou repetitivo, mas as pessoas só entendem quando repetimos muitas vezes a mesma cantilena. Ninguém aprende pensando, aprende de tanto escutar.

O teatro, Guilherme, são zilhões de projetos, muitos, inúmeros, infindáveis projetos. Não peças, não espetáculos nem intenções de espetáculos, mas projetos, propostas que devem estar adequados aos editais dos governos e às empresas. Por exemplo, para usar uma imagem da gente da roça. Eu planto tomate, a minha família sempre plantou tomate, entendemos tudo sobre tomate, a cor, o cheiro, o sabor. Por exemplo. Mas este ano não há ninguém interessado no nosso tomate no Ministério da Agricultura. Então plantamos caqui, que parece tomate, mas é mais bonito e é doce. – Mas como? – pergunta o Guilherme – Tomate é fundamental para a alimentação, para a saúde, não há povo que chegue à maturidade sem comer tomate. E eu respondo (e já sei que ele não vai entender, vou ter que repetir cem vezes isto): – Mas o que dá mídia esse ano é caqui.

E essa é só uma das distorções. Zilhões de projetos disputando o dinheiro à tapa. E não só o dinheiro, mas os teatros, as platéias, o pouco espaço que há nos jornais (“nos”? Mas que plural é esse para jornal na cidade do Rio de Janeiro, meu Deus?). E atores a rodo. Como nunca antes na história desse país. Os atores sobram, pululam, gritam no brejo como pererecas. Misturam-se profissionais, amadores, modelos, há de tudo um muito. Profissionais ficam anos sem trabalhar, amadores também, modelos também, todos ficamos. Anos esperando uma oportunidade. Então toca-lhe a fazer projetos, apresentar projetos, jogar projetos pro alto – o que Deus pegar é dele, o que cair no chão vamos ter que tentar produzir nós mesmos.

E as distorções, muitas, se sobrepondo, se superpondo e se acavalando. Um sujeito que leva dez anos pra aprovar um projeto no CCBB. Um outro sujeito que aprova dois projetos por ano no mesmo lugar. O primeiro é um incompetente? Não, o segundo é que conhece alguém quente. Mas onde há tanta pressão não há tempo para pensar, refletir, examinar, vale o soco, o pontapé e a cusparada. Logo, vale a mãozinha amiga também. Assim terminamos o ano passado, assim começamos o outro.

E o pior, Guilherme – ainda está aí, ouvindo? O teatro não é uma finalidade em si. A finalidade não é a obra que se produz, sua continuidade, sua oportunidade, sua legitimidade, seus valores estéticos, éticos, escambais. A finalidade é outra, é paa além do teatro. A finalidade é prover a tevê. É chegar à tevê, ou se justificar para a tevê, ou se utilizar da popularidade alcançada pela tevê. Ou – talvez, coitados, também é possível – tentar sobreviver sem a tevê.

Esse ponto é mais difícil de explicar. Mas tentemos. Com outra imagem da roça. Quando um sujeito pesca, sua intenção é vender o produto da pesca. E viver da pesca, alimentar a si mesmo e à família com a pesca, e preparar a próxima temporada de pesca. Mas aqui é como se o camarada pescasse simplesmente para estar no rio, seguindo a corrente em direção ao mar. Vai faminto, vai brigando contra as intempéries, vai tomando chuva e tomando sol. Não importa os peixes que vai pescando, é uma pesca esportiva, nada mais.

Porque no fim do rio ele vislumbra o mar. O grande mar. No mar pode não haver nada além de mais fome e ainda mais sede, naquele mundaréu de água que nunca se acaba. Mas também pode haver cardumes de baleias, e sereias que encantam, e baús de tesouros no fundo. Outros acharam todas essas coisas. Então, é claro que nós também vamos encontrar.