quarta-feira, 4 de abril de 2012

Será?

Um amigo me disse que o número de projetos inscritos para a Lei Rouanet diminuiu muito nesse começo de ano. Vou verificar isso. Mas a simples hipótese me provoca uma meia dúzia de ilações. Na verdade, nos últimos anos o número de projetos inscritos na Rouanet vinha aumentando. O número de peças que conseguem patrocínio depois de obter a autorização legal é que não acompanha o ritmo. Talvez as pessoas estejam percebendo que não adianta ter a autorização de captação pela Lei. Precisa ter quem se interesse em patrocinar. Já vimos aqui que a maioria das empresas que patrocinam com mais frequência o teatro utilizando a Rouanet querem projetos estrelados por artistas de televisão. Também a bem da verdade, não sei se é exatamente isso. Se continuamos no Brasil, e parece que é onde estamos, a maioria dos projetos aprovados que consegue dinheiro deve ser a daqueles que conhecem alguém que conhecem alguém que conhecem alguém que conhecem alguém que têm um contato com os patrocinadores. Esses atravessadores são os primeiros de qualquer lista. Os verdadeiros ministros e secretários de cultura são esses senhores que decidem para quais projetos vão prioritariamente as verbas de impostos captados nessas empresas. O que sobra sim, é disputado à tapa por todo o resto e aí certamente o critério de quem tem o elenco mais "estrelado" começa a valer. Daí que é possível que as pessoas tenham se cansado desse troço e esse ano estejam abarrotando os editais com seus projetos na esperança de uma disputa mais "democrática". Não sei se essas pessoas se iludem porque querem ou porque não conseguem enxergar que continuamos no Brasil. Muitos desses editais, com suas comissões julgadoras secretas e sua lista de critérios de avaliação confusas, parecem na verdade uma forma sub-reptícia de repetir o mesmo esquema do favorecimento aos conhecidos dos conhecidos dos conhecidos antes de todo o resto. Mas é possível que amanhã alguém melhore algum aspecto da Rouanet e a enxurrada de projetos volte para o lado de lá outra vez. E vamos assim, seguindo essa maré de idas e de voltas que não levam a lugar nenhum.