domingo, 5 de janeiro de 2014

Uns Números...

No segundo semestre de 2010 comecei a minha "pesquisa" sobre a quantidade de peças de teatro no Rio de Janeiro que deu origem a esse blog e a grande parte das reflexões expostas aqui. Uma "pesquisa" assim entre aspas porque o autor é um pesquisador amador. A fonte de dados esse tempo todo é praticamente uma só: o suplemento RIO SHOW do jornal O GLOBO, que dá conta, ou deveria, da programação de teatro nos fins de semana na cidade. Ou seja, além de restrita a uma só fonte (pode um pesquisador profissional completar esse apanhado com os Guias de Teatro que os espectadores encontram gratuitamente em quase todas as Salas do Rio, com o serviço dos nossos jornais populares, com o Segundo Caderno do mesmo jornal O GLOBO nos outros dias da semana, com a programação infantil fornecida online pelo CBTIJ, etc). Mesmo a listagem baseada no RIO SHOW que faço ao longo desses três para quatro anos tem umas lacunas, quando não comprei o jornal por alguma razão, ou comprei e perdi a o suplemento. Então, tudo o que vai aqui vale mais pela estimativa e pela possibilidade especulativa que origina do que por outra coisa. Espero que uma hora isso ainda vire ciência e quem sabe um governo, uma secretaria, uma associação de classe, ou algum diletante mais determinado do que eu transforme esse extrato num trabalho de verdade, com método e aplicação. Possa, além do mais, expandir os horizontes de pesquisa, comparando outras épocas, cidades e regiões, coisa que pode ser útil para o trabalho de historiadores e outros estudiosos de arte e para o embasamento de políticas públicas para o setor cultural. Também pode ajudar produtores na programação de temporadas, gestores de casas de espetáculos e quem mais precise de números assim para trabalhar melhor. Com todos os defeitos que tem, no entanto, a iniciativa me permite uma meia dúzia de ilações curiosas e, na pior das hipóteses, me sinto um pouco menos néscio que outros amigos atores - menos o Orã, que também conta as peças nos fins de semana - quando discuto sobre a produção recente de teatro na cidade (e no país).
Feitas as ressalvas, vamos aos primeiros números. Ah, sim, não vou apresentá-los todos, apenas umas pinceladas que considero mais importantes e uma tentativa de comparação entre ano e outro. Vou começar pelos números referentes às estreias (sempre é muita conta  a se fazer, melhor ir por partes). Ainda tenho a esperança de conseguir eu mesmo trabalhar e melhorar as tabelas que criei, acrescentar os elencos e as salas de teatro (coisa que fiz em 2011 ou 2012 e nunca mais) para saber, por exemplo, quantos atores atuaram no teatro carioca num período determinado, se os nomes se repetem e com que frequência, qual o tamanho dos elencos, que novas salas ou "espaços" abriram, quais fecharam. Também queria retomar a questão da extensão das temporadas, que peças ficaram mais tempo em cartaz e em que época, e perceber e listar os pequenos circuitos que determinadas produções criaram entre as salas do Rio, quais são recorrentes, quais são extemporâneos e porquê. Outra ideia boa seria comparar os preços dos anúncios das peças ao longo dos anos, o espaço que esses anúncios ocupam no suplemento do jornal da cidade e medir e tentar descobrir se houve ou está havendo alguma mudança nesse sentido com a expansão das campanhas de divulgação pela Internet. Recentemente, o Jornal O GLOBO publicou matéria no Segundo Caderno dando conta do aumento "absurdo" no preço dos espetáculos no Rio nos últimos anos, mas não disse uma linha sobre o aumento no preço da mídia para o mesmo período e que impacto tem o preço da mídia na formação dos preços cobrados nas bilheterias das salas. Também seria útil comparar os preços das mídias para divulgar espetáculos de teatro em relação aos preços cobrados para divulgar cebola e automóveis (sabemos que é menor, ou achamos que é menor, mas não vemos anúncios de peças de teatro em mídias mais caras, então o preço é menor nas mídias baratas e de menor penetração). Enfim, é pano pra manga. Mas comecemos pelas estreias.
Ao longo do período "estudado", pode-se dizer que os cariocas tiveram à sua disposição um número mais ou menos regular de estreias por semana ou por mês. Em média, entre 4 e 5 novas peças adultas entram em cartaz nos teatros da cidade, entre quinta e domingo. Há semanas extraordinárias com 6 ou 7 peças novas, semanas em que ninguém estreia e um incrível dezembro de 2012 em que se registram 10 peças novas (seria o medo fim do mundo?). Mas a média mesmo fica entre 4 e 5. Ou umas 20 a 25 por mês. Em quatro anos, portanto, a cidade produziu pelo menos 240 novos títulos/ano ou quase mil espetáculos inéditos de teatro. Fico com pena dos riscos de inexatidão nesses números, porque poderíamos compará-los aos investimentos em fomento para o período (depois, é claro, de calcularmos adequadamente a porcentagem mínima que é produzida com dinheiro próprio). O produtor poderia saber quanto custou em média produzir uma peça de teatro no Rio de Janeiro e calcular se a sua futura produção está acima ou abaixo desse valor e inferir o porquê. Também para o gestor público o cálculo poderia apontar com mais segurança para o tamanho do aumento de aporte de verba para os anos seguintes e qual parcela da produção teatral anda mais carente das pernas que outra (e todas andam). De qualquer modo, em relação ao número total de peças em cartaz na cidade toda semana, mesmo que pareçam muitas, as estreias de espetáculos adultos entre agosto de 2010 e dezembro de 2013, no Rio de Janeiro, entre quinta a domingo, não representam nem 10% dos espetáculos em cartaz na cidade. No segundo semestre de 2010 havia cerca de 45 espetáculos/semana no Rio, número que sobre para 53 em 2011, 66 em 2012 e volta a 56 em 2013. Aqui, outra ilação interessante. Se aumentaram as peças e o número de estreias se manteve relativamente constante, significa que provavelmente o número de espetáculos que se mantém em cartaz vem aumentando ao longo dos anos. Mas todos sabemos, por experiência própria, que as temporadas andam mais curtas. O que estará havendo então? Um novo tipo de temporadas menores para o mesmo espetáculo pode estar superando o antigo modelo de sucesso dos espetáculos. Algumas peças somem do cartaz por meses inteiros e até mais de um ano e voltam. Ocupados com as novas produções, não estamos nos atendo a isso. Se for verdade, esse é mais um ponto de estudo para abalizar as novas políticas de fomento e nossas decisões de produção. Significa que o dinheiro público aplicado em peças de teatro rende mais do que parecia. Mas em que proporção? E que outras vantagens do novo modelo? Vem do crescimento do número de Companhias de Teatro ou também compreende produções avulsas? Implica na necessidade do aumento de salas? De excursões e festivais?
Muito bem, chega por hoje, paramos por aqui. O assunto é extenso, cansativo e complicado. E como ainda tenho muitos números e muitas questões, voltaremos depois com a cabeça mais fresca.

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Em tempo: o Jornal O GLOBO publica matéria hoje, domingo, 5 de janeiro/2014, uma matéria no Segundo Caderno de passada de bastão da crítica Bárbara para o crítico Maksen. Eu me antecipei aos fatos, adivinhei, sou um guru e não sabia? Durma-se com um barulho desses...