quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Vai-se outro ano desgarrado...

Dois assuntos, de forma rápida, eu ando ou meio sem assunto, ou meio sem tempo atualmente. Primeiro: parece que a crítica Bárbara Heliodora está em vias de aposentar-se. Ué, e por que demorou tanto? Tirando a questão dos males e dos bens (e bota males nessa conta) que essa senhora fez com seus textos sobre o teatro carioca esses anos todos, vai daqui a esperança que não tenhamos que engolir outro dono da verdade daqui pra frente. Um crítico de teatro vale, salvo engano, pelo que vale o jornal onde ele publica. Se o jornal é um só e é O Globo, imaginem o quanto vale essa opinião. Quando eu cheguei no Rio de Janeiro, no final dos anos 70 (**), quem mandava era o Maksen Luiz, porque quem mandava era o Caderno B do Jornal do Brasil. O Maksen escrevia confuso pra burro (ainda escreve) e eu, do alto da minha ignorância alemparaibana de 19 anos de idade, não conseguia atinar porque davam tanta importância ao que ele publicava. Muito mais tarde é que eu entendi: não era problema dele, era problema dele e de quem dava moral a ele (o jornal e os leitores do jornal). Depois o JB virou on line, o Maksen ainda tem um blog onde desfila suas críticas incompreensíveis, mas como ninguém dá bola, acabou-se o problema. Agora essa senhora. Quando o Maksen ruiu de vez, ela (a quem já se dava muita bola) ganhou de presente o lugar. Como na cidade só tem o jornal onde ela escreve  (tem uns outros, mas que o pessoal de teatro não dá moral pra esses outros, nem os artistas, nem os espectadores) tudo o que ela escreve de bom ou de mal tende a virar lei (e bota mal nisso). Então, não é um problema dela, é um problema dela e nosso, que lemos, que avaliamos, que recomendamos o que ela escreve. E a opinião que não tem concorrência é a pior ditadura que estamos construindo no Brasil Novo. De repente agora, quando aos cento e noventa e seis anos e vinte e quatro minutos essa senhora cansou-se de brincar de teatro, ou de crítica de teatro, a gente entra numas que a pluraridade de opiniões não faz mal. Quem sabe? Tem aí a internet, falam que a internet está mandando ver. O diabo é que com o nosso instinto de manada fica difícil. Vamos sempre em bando pra um lugar só. Imagina se resolve ir a manada toda de volta pro blog do Maksen outra vez?

O segundo assunto renderá, darei só uma palinha: estive na MEI, tentando abrir uma MEI e me deparei com as idiossincrasias da MEI. Como então a legislação brasileira ainda não percebeu o que é a profissão de ator no Brasil em plenos anos dois mil? Precisa vir um historiador, um sindicalista, um professor de teatro explicar essas coisas pros legisladores. No Brasil, ator com carteira assinada, só tem na TV Globo (e mesmo assim não são todos) e nalgum musical mais entusiasmado. O resto é tudo freela, ou recebe por firma, na base das notas frias, quentes e mornas, ou como conseguir receber que o problema é dele e é cada um por si. Era hora de a legislação dar conta dessa realidade. Não será fácil. Ainda mais que, além do mais, o cara hoje é ator, amanhã é dono da produção, depois da manhã é pintor de cenário, escritor, diretor de cena, encenador, coreógrafo, maquiador, compositor, arranjador e fazedor de cafezinho nas horas vagas.

(**) - Ver comentário de Willian Taranto