terça-feira, 10 de maio de 2011

Voltando... e voltando

Estive fora esse tempo todo porque estava às voltas com LINDA, que estreou, fez uma primeira temporada no Espaço SESC Copa, terminou a primeira temporada e se prepara para a segunda, oxalá assim seja e seja boa, no Teatro dos Quatro, na Gávea, às terças e quartas, 19 h, a partir de 07 de junho. LINDA é uma boa peça e um espetáculo bom. Estreou mal, não fizemos uma boa estréia e sabemos disso. No dia seguinte já era ótima, mas a estréia não foi. Não tínhamos nunca feito com público, erramos a mão, o tom... Enfim. E pagamos o preço de uma estréia ruim: pouca gente de teatro foi assistir a essa primeira temporada, não tivemos crítica, essas coisas. Aliás, tivemos sim, uma crítica do Macksen Luiz no blog dele, ia me esquecendo. Nem boa nem má. E ele viu depois da estréia num dia que, pra nós, foi bom.


É curioso como nós, de teatro, não entendemos muito de teatro. Tirando talvez um crítico ou outro, tirando um diretor ou outro, algum ator mais estudioso, dedicado. Digo "não entendemos de teatro", mas não estou me referindo só aos assuntos favoritos até aqui neste blog - números, estatísticas, história recente, essas coisas. Digo que não entendemos nada quanto ao "objeto" propriamente. Foi uma lenha ensaiar LINDA. Eu não dirigia uma peça há mais de uma década, achava que era como bicicleta, que a gente não esquece como anda nem depois que morre. Mas não é. No primeiro mês ensaio ainda consegui me virar. Mas em algum momento deu um tilti e, caraca!, eu tinha esquecido tudo. Nem tanto a parte teórica, essa eu continuei exercitando ao longo dos anos, mas parte prática... meu Deus do Céu, era ruim demais da conta aquilo, seu. Salvou-me do desespero total o "colega" Aderbal, este sim homem dos mais entendedores do assunto em atividade por aí (que, aliás, também estréia um espetáculo dele nessa quinta-feira).

Produzir teatro se tornou uma coisa relativamente comum nos dias que correm. Todo mundo reclama que está difícil arrumar patrocínio e que não se tem dinheiro. Mas no século passado era muito pior. Nunca antes na história desse país... A média de espetáculos adultos profissionais em cartaz no Rio de Janeiro nesses dois últimos meses ultrapassou as 50 peças. Semana passada eram 63( só no fim de semana). E, com todas as dificuldades, as pessoas continuam estreando. E graças a Deus a grande maioria dos espetáculos não vai muito longe. Digo "graças a Deus" (com uma grande dose de ironia, claro) porque não haveria sala pra tanta peça junta, se elas não morressem logo (quanto mais público). Quando alguém se der à pachorra de fazer um estudo sério (ou quando se criar um instituto que se proponha a estudos sérios) deverá descobrir que o teatro se popularizou mais nos últimos anos como coisa a ser produzida do que a ser assistida. Duvido que o público das peças cresceu (se é que cresceu) na mesma proporção do número espetáculos que vão entrando e saindo do cartaz.

Produzir peças se tornou uma obsessão e uma necessidade imperiosa do sistema. E nisso, a qualidade, o tempo que temos para treinar e aprender a fazer peças melhores, bom, isso vai pra cucuia. O que importa é fazer. Conseguir uma grana, fazer a peça, matar aquele público (quando tem) fazer outra peça, conseguir outra grana... E por aí vai. E, mesmo quando não temos grana de patrocínio, produzimos com a lógica dos que têm, que se tornou a lógica-modelo de mercado. Nisso, a nossa acuidade dança. Quem treina? Quem critica? Quem é capaz de inventar com tanta peça uma atrás da outra pra fazer? Tenho um amigo cenógrafo que, até o mês de março, já havia estreado nada menos que 8 peças no Rio de Janeiro. Pô, vai ser criativo assim lá na... Tenho outro amigo que é diretor que, a essa altura do ano, deve estar pela sua sétima, oitava encenação também. E tudo peça descartável. Tudo peça que, no semestre que vem, ninguém nem lembrará que já existiu. Só no final do ano, quando saírem as indicações a prêmios é que alguém sentirá falta - "Pô, mas não me indicaram". "Não, cidadão, eu sequer te assisti. Não houve como."

E dá pro crítico ser bom no meio de tanta coisa pra ver? E dá pro artista fazer um trabalho bem feito? E dá pra sobreviver com a fórmula produzir rápido e com pouca gente (pra aproveitar a grana que tem) antes da próxima peça?

Foi atrás desse bonde que eu fui, sem dúvida. Uma peça com dois atores, pra produzir com o dinheiro que tem (e não tem) e no tempo que der. Claro, depois de dez anos sem encenar, eu precisava de um tempo bacana pra ensaio, pra redescobrir do que se trata o teatro, como faz e por que. Aí, quando me apertaram o tempo (um dia, o produtor apareceu e disse: arrumamos o Sesc e é pra daqui a tantos dias, obaaaa!!!) nesse momento faltou o estofo e quase afundei... E quantos outros não estarão afundando por aí, sem um gênio que lhes estenda a mão?

Perdemos a capacidade crítica, afinal (se um dia a tivemos). Que o público não saiba a diferença entre o bom e o mau teatro, ou, no mínimo, a diferença entre teatro e não-teatro, vá lá. Não são obrigados a saber disso, aliás pagam para não saber, só para desfrutar. Mas que nós, profissionais do ramo, não saibamos, isto sim é um problemaço. É muita peça, muita falta de referência, muita produção travestida de arte, muita lábia, lobby, muito túnel e pouca luz. Ou seguramos o bonde, ou vamos bater no próximo poste (com Ronaldinho e tudo).

Um comentário:

  1. Acho que sou eu o próximo da fila a pedir ajuda ao Mestre, em junho vou lá ver de nôvo, e olha que eu só vi a estréia e gostei!

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