terça-feira, 24 de maio de 2011

COMENTÁRIO DO NEY MOTTA AO POST ANTERIOR

Gil, está é uma questão que eu me debruço a tempos. Sim faltam salas! Sim o tempo de temporadas precisa aumentar! Sim o público precisa ser estimulado a assistir teatro! Ou melhor, teatros, pois são vários os estilos e gêneros. Mais a conta nunca vai fechar, pois vai continuar faltando espaços para tantas peças que se deseja montar. Em São Paulo mesmo com a grande quantidade de salas, lá eles também reclamam que é pouco. Acontece que lá alguns hotéis tem teatros; quase todos os instituots tem teatros; as redes do SESI e Sesc tem muitos teatros no estado todo; mas, principalmente, grande parte das cias de teatro tem seus próprios espaços teatrais. Na minha análise este último ponto é fundamental. Você vê por exemplo a Armazém Cia de Teatro, eles fazem suas estréias nos teatros da cidade, mas podem continuar com a temporada no seu próprio espaço. É disso que precisamos, que os grupos e cias tenham seus espaços. Outra coisa que eu defendo é que sejam criados aqui prédios (no plural mesmo) como o Centro Cultural São Paulo, onde os grupos que não tem seu espaço podem ensaiar e se apresentar. É um prédio plural (2 teatros, cinema, biblioteca, inúmeras salas de ensaio, etc) que oferece arte e cultura ao público e aos artistas um espaço para experimentação e encenação. Como eu também já disse, Lona Cultural serviu para um momento histórico na cidade do Rio de Janeiro, hoje elas deveriam ser doadas a grupos e a Prefeitura deveria investir em espaços como o Centro Cultural São Paulo. A discussão é boa.







Ney Motta

sábado, 21 de maio de 2011

DUAS QUESTÕES – A PRIMEIRA

Respondendo a duas observações feitas pelos leitores a partir do post da semana passada. A de hoje é sobre essa questão da quantidade de peças.


1) O sujeito aqui reclama que eu estaria sugerindo que diminuíssem o número de espetáculos em cartaz no Rio, que eu estou nadando contra a corrente e enfraquecendo o movimento...


Não, não, acho que estou sendo mal compreendido. Esse negócio de blog é legal, mas o espaço nunca é suficiente. Bacana seria uma tese, um livro, sei lá, alguma coisa mais consistente. Mas no momento, é o que temos. Então usemos.

Nunca falei aqui nada contra o número de peças. De repente posso ter dado essa impressão pelo tom algo espantado como me refiro à coisa. Mas é porque eu imaginava menos peças em cartaz e acho que me surpreendi quando comecei a contar. Não sei se 54 espetáculos profissionais adultos (essa é a média do presente mês de maio) por final de semana é um número alto ou baixo para a cidade do Rio de Janeiro. São Paulo, dizem, tem mais de 150. E o fim de semana teatral em São Paulo tem um dia a menos que o nosso. Mas, também, lá também parece ter muito mais salas de espetáculos (ou não?). Quem sabe se tivéssemos mais salas de espetáculos ou tantas quanto eles ainda teríamos mais peças de teatro em cartaz do que São Paulo? Quem sabe?

Comparo com São Paulo e não sei se é a melhor comparação. Ou se deveria estar comparando com Nova Iorque, Paris, Cidade do México, Madri, ou Buenos Aires. Qual dessas cidades se parecerá mais com a nossa em quantidade de peças/habitante interessado em assisti-las? Ou em termos de fomento, em quantidade de grupos e de produtores independentes? Seja como for, não tenho como afirmar se esse número de peças em cartaz aqui é demais ou de menos para os cidadãos cariocas.

O que acho sim, fora do normal (mas o que será o normal?) é o tempo que cada uma dessas peças, em geral, tende a permanecer em cartaz. Senão vejamos.

Considerando os cinco primeiros meses de 2011, o Rio de Janeiro já apresentou ao seu público um número superior a 200 títulos de espetáculos teatrais. Entre os que estrearam este ano, os que vieram do ano passado ou de anos anteriores, reestréias, espetáculos de mostras, produções locais ou de outros estados, etc. Aliás, como deixei de contar algumas semanas, acho que 250 títulos é, na verdade, uma estimativa mais realista.

E só estou falando, bem entendido, de fins de semana. E de teatro adulto. Nada contra os outros dias da semana, nem contra o teatro infantil. Faço isso só para delimitar um pouco a amostragem. (Contando também os infantis, a média de espetáculos no Rio por final de semana é de setenta e poucos).

Se considerarmos que, na cidade toda, contando direitinho, só vamos achar umas 50 salas ou “espaços” em condições de receber esses mesmos espetáculos em cartaz... São cerca de 5 espetáculos por sala. Em cinco meses: cada espetáculo tem exatamente um mês, em média, para se apresentar. Logo, cada peça que ultrapassa esse tempo de permanência (e algumas conseguem) empurra umas tantas outras para novos espaços, para fora do cartaz, para os horários alternativos ou sei mais para onde pode ir uma peça a procura de público nessa cidade. Há falta de salas? Bem, parece evidente que há falta de salas. Mas os espetáculos se acotovelam de fato apenas pela falta de salas? E, se houvesse mais salas, durariam mais tempo em cartaz?

Como quase tudo aqui nesse blog, sem a metodologia adequada, sem números confiáveis, sem uma pesquisa séria e consistente, o que podemos fazer com o que temos, é estimar, imaginar e aproximar nossa imaginação do real.

Se houvesse uma relação mais simples entre o número de salas existente na cidade e a quantidade de espetáculos que produzimos, a tendência seria diminuir o número de espetáculos numa proporção pelo menos assemelhada ao número de salas que se fecham. Ou só aumentar o número de peças na medida em que aumentassem o número de “espaços” para abrigá-las. Não é o que se observa, no entanto. O número de espetáculos este semestre cresceu quase 10% em relação ao semestre passado (de 45 para 50). E a única sala nova que me lembro que abriu nesse mesmo, e há menos de 15 dias, foi o Teatro Poeirinha, em Botafogo, com capacidade para 70 pessoas.

Isso de público também é um indicativo que funciona ao contrário no teatro carioca. No semestre passado a média de público me pareceu (pelo que me diziam os produtores, como é difícil fazer um estudo sem números!) acima da média desse semestre. E, assim como no caso das salas, a produção da cidade parece ter ignorado essa retração de espectadores. E continuou aumentando. E quando vai parar de crescer? E em função do que deve realmente aumentar?

Um elemento importante na elevação da média de espetáculos em cartaz na cidade neste semestre, com o conseqüente aumento no rodízio de peças nas salas disponíveis pode ter sido o maior aporte da verba de fomento do município - a última edição do FATE foi generosa. Isso deu uma estimulada extra na produção. E, além disso, estávamos contando com os editais do governo federal, que estão atrasados até agora. Claro, o edital da Prefeitura não deu conta de tudo. Mas, com projetos em andamento e sem outra saída, muitos produtores podem ter optado por realizar os seus projetos mesmo sem receber os patrocínios que contavam.

Seja quais forem as causas, o fato é que, neste semestre, aumentou a pressão de uns espetáculos sobre os outros, com a conseqüente diminuição das temporadas médias para abaixo das “históricas” 32 semanas. Pode ser sazonal. Pode ser que, no próximo semestre, haja uma retração e voltemos aos números mais “razoáveis” de temporadas anteriores. Mas quem pode considerar saudável um teatro com a maioria das peças se espremendo em temporadas de até dois meses no máximo?

Ou talvez seja mesmo assim no mundo inteiro e nós não tenhamos nada de incomum com relação ao que se faz em outros lugares deste mundo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Voltando... e voltando

Estive fora esse tempo todo porque estava às voltas com LINDA, que estreou, fez uma primeira temporada no Espaço SESC Copa, terminou a primeira temporada e se prepara para a segunda, oxalá assim seja e seja boa, no Teatro dos Quatro, na Gávea, às terças e quartas, 19 h, a partir de 07 de junho. LINDA é uma boa peça e um espetáculo bom. Estreou mal, não fizemos uma boa estréia e sabemos disso. No dia seguinte já era ótima, mas a estréia não foi. Não tínhamos nunca feito com público, erramos a mão, o tom... Enfim. E pagamos o preço de uma estréia ruim: pouca gente de teatro foi assistir a essa primeira temporada, não tivemos crítica, essas coisas. Aliás, tivemos sim, uma crítica do Macksen Luiz no blog dele, ia me esquecendo. Nem boa nem má. E ele viu depois da estréia num dia que, pra nós, foi bom.


É curioso como nós, de teatro, não entendemos muito de teatro. Tirando talvez um crítico ou outro, tirando um diretor ou outro, algum ator mais estudioso, dedicado. Digo "não entendemos de teatro", mas não estou me referindo só aos assuntos favoritos até aqui neste blog - números, estatísticas, história recente, essas coisas. Digo que não entendemos nada quanto ao "objeto" propriamente. Foi uma lenha ensaiar LINDA. Eu não dirigia uma peça há mais de uma década, achava que era como bicicleta, que a gente não esquece como anda nem depois que morre. Mas não é. No primeiro mês ensaio ainda consegui me virar. Mas em algum momento deu um tilti e, caraca!, eu tinha esquecido tudo. Nem tanto a parte teórica, essa eu continuei exercitando ao longo dos anos, mas parte prática... meu Deus do Céu, era ruim demais da conta aquilo, seu. Salvou-me do desespero total o "colega" Aderbal, este sim homem dos mais entendedores do assunto em atividade por aí (que, aliás, também estréia um espetáculo dele nessa quinta-feira).

Produzir teatro se tornou uma coisa relativamente comum nos dias que correm. Todo mundo reclama que está difícil arrumar patrocínio e que não se tem dinheiro. Mas no século passado era muito pior. Nunca antes na história desse país... A média de espetáculos adultos profissionais em cartaz no Rio de Janeiro nesses dois últimos meses ultrapassou as 50 peças. Semana passada eram 63( só no fim de semana). E, com todas as dificuldades, as pessoas continuam estreando. E graças a Deus a grande maioria dos espetáculos não vai muito longe. Digo "graças a Deus" (com uma grande dose de ironia, claro) porque não haveria sala pra tanta peça junta, se elas não morressem logo (quanto mais público). Quando alguém se der à pachorra de fazer um estudo sério (ou quando se criar um instituto que se proponha a estudos sérios) deverá descobrir que o teatro se popularizou mais nos últimos anos como coisa a ser produzida do que a ser assistida. Duvido que o público das peças cresceu (se é que cresceu) na mesma proporção do número espetáculos que vão entrando e saindo do cartaz.

Produzir peças se tornou uma obsessão e uma necessidade imperiosa do sistema. E nisso, a qualidade, o tempo que temos para treinar e aprender a fazer peças melhores, bom, isso vai pra cucuia. O que importa é fazer. Conseguir uma grana, fazer a peça, matar aquele público (quando tem) fazer outra peça, conseguir outra grana... E por aí vai. E, mesmo quando não temos grana de patrocínio, produzimos com a lógica dos que têm, que se tornou a lógica-modelo de mercado. Nisso, a nossa acuidade dança. Quem treina? Quem critica? Quem é capaz de inventar com tanta peça uma atrás da outra pra fazer? Tenho um amigo cenógrafo que, até o mês de março, já havia estreado nada menos que 8 peças no Rio de Janeiro. Pô, vai ser criativo assim lá na... Tenho outro amigo que é diretor que, a essa altura do ano, deve estar pela sua sétima, oitava encenação também. E tudo peça descartável. Tudo peça que, no semestre que vem, ninguém nem lembrará que já existiu. Só no final do ano, quando saírem as indicações a prêmios é que alguém sentirá falta - "Pô, mas não me indicaram". "Não, cidadão, eu sequer te assisti. Não houve como."

E dá pro crítico ser bom no meio de tanta coisa pra ver? E dá pro artista fazer um trabalho bem feito? E dá pra sobreviver com a fórmula produzir rápido e com pouca gente (pra aproveitar a grana que tem) antes da próxima peça?

Foi atrás desse bonde que eu fui, sem dúvida. Uma peça com dois atores, pra produzir com o dinheiro que tem (e não tem) e no tempo que der. Claro, depois de dez anos sem encenar, eu precisava de um tempo bacana pra ensaio, pra redescobrir do que se trata o teatro, como faz e por que. Aí, quando me apertaram o tempo (um dia, o produtor apareceu e disse: arrumamos o Sesc e é pra daqui a tantos dias, obaaaa!!!) nesse momento faltou o estofo e quase afundei... E quantos outros não estarão afundando por aí, sem um gênio que lhes estenda a mão?

Perdemos a capacidade crítica, afinal (se um dia a tivemos). Que o público não saiba a diferença entre o bom e o mau teatro, ou, no mínimo, a diferença entre teatro e não-teatro, vá lá. Não são obrigados a saber disso, aliás pagam para não saber, só para desfrutar. Mas que nós, profissionais do ramo, não saibamos, isto sim é um problemaço. É muita peça, muita falta de referência, muita produção travestida de arte, muita lábia, lobby, muito túnel e pouca luz. Ou seguramos o bonde, ou vamos bater no próximo poste (com Ronaldinho e tudo).