segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Quem Interessa?



Um amigo meu me contou essa. Um elenco relativamente conhecido em cartaz em um teatro particular não vai muito bem de público. Ou faz o público que as peças como a que eles apresentam normalmente faz. Mas não é suficiente pra pagar todo mundo e o mínimo do teatro. Então eles se cotizam pra completar a quantia. Ou seja, não estão ganhando nada e ainda pagam. Perguntei por que eles continuam em cartaz, já que não são aqueles elencos jovens querendo aparecer pra algum produtor de tevê (são atores com anos de estrada, repito). Diz o meu amigo que é porque estão pra ganhar um patrocínio não sei por que lei. Ah, bom, tá explicado. O público que se lasque, a peça que se lasque, vivem da esperança de ganhar lá na frente o que estão perdendo agora. Se o patrocínio não vier, depois podem dizer que fizeram uma temporada inteira por amor à arte. Que doido isso.

Em tempo: o preço da diária dos teatros particulares explodiu. Mas tudo explodiu. Uma peça que custava cento e cinqüenta mil há quinze, dez anos atrás, quando o último dos produtores produzia com grana do bolso pra tentar recuperar na bilheteria, hoje custa pelo menos uns seiscentos mil. Quatrocentos por cento a mais. Mesma peça, elenco do mesmo naipe, mesmo produtor, cenógrafo, diretor, teatro, mesmo plano de mídia, tudo. O que subiu quatrocentos por cento no mesmo período? Com a política do patrocínio, houve uma readequação de preços. Por um lado fez-se justiça nos cachês dos profissionais que se alinharam com os cachês da televisão, ou tentaram, porque é impossível acompanhar. Por outro lado, muita gente metendo a mão deslavadamente nos dinheiros das comissões e outros. Uma pesquisa pra se fazer: quanto subiu a mídia de teatro nesse mesmo período?

O governo sabe, nós sabemos, todos sabem. Está comprovado por dados e o Ministério da Cultura bate nessa tecla toda hora quando fala em mudar as regras da lei Rouanet (e todo mundo estrila quando o governo fala em mexer na Rouanet). Mas a concentração da renda do patrocínio na mão das produtoras segue a lógica de concentração da renda no mundo. Uma minoria minoria absoluta de duas ou três produtoras que capta oitenta, noventa por centro do dinheiro todo. E nós, o resto, disputando o que sobra a tapa e dedo no olho. Mesmo assim são duzentas estreias por ano, só no Rio de Janeiro. E se a distribuição fosse mais equânime? Só podemos conjecturar se haveria mais estreias ou mais peças por mais tempo em cartaz. Por enquanto, só conjecturas, só conjecturas.

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