Um amigo meu me contou
essa. Um elenco relativamente conhecido em cartaz em um teatro particular não
vai muito bem de público. Ou faz o público que as peças como a que eles
apresentam normalmente faz. Mas não é suficiente pra pagar todo mundo e o
mínimo do teatro. Então eles se cotizam pra completar a quantia. Ou seja, não
estão ganhando nada e ainda pagam. Perguntei por que eles continuam em cartaz,
já que não são aqueles elencos jovens querendo aparecer pra algum produtor de
tevê (são atores com anos de estrada, repito). Diz o meu amigo que é porque
estão pra ganhar um patrocínio não sei por que lei. Ah, bom, tá explicado. O
público que se lasque, a peça que se lasque, vivem da esperança de ganhar lá na
frente o que estão perdendo agora. Se o patrocínio não vier, depois podem dizer
que fizeram uma temporada inteira por amor à arte. Que doido isso.
Em tempo: o preço da
diária dos teatros particulares explodiu. Mas tudo explodiu. Uma peça que
custava cento e cinqüenta mil há quinze, dez anos atrás, quando o último dos
produtores produzia com grana do bolso pra tentar recuperar na bilheteria, hoje
custa pelo menos uns seiscentos mil. Quatrocentos por cento a mais. Mesma peça,
elenco do mesmo naipe, mesmo produtor, cenógrafo, diretor, teatro, mesmo plano
de mídia, tudo. O que subiu quatrocentos por cento no mesmo período? Com a
política do patrocínio, houve uma readequação de preços. Por um lado fez-se justiça
nos cachês dos profissionais que se alinharam com os cachês da televisão, ou
tentaram, porque é impossível acompanhar. Por outro lado, muita gente metendo a
mão deslavadamente nos dinheiros das comissões e outros. Uma pesquisa pra se
fazer: quanto subiu a mídia de teatro nesse mesmo período?
O governo sabe, nós
sabemos, todos sabem. Está comprovado por dados e o Ministério da Cultura bate
nessa tecla toda hora quando fala em mudar as regras da lei Rouanet (e todo
mundo estrila quando o governo fala em mexer na Rouanet). Mas a concentração da
renda do patrocínio na mão das produtoras segue a lógica de concentração da
renda no mundo. Uma minoria minoria absoluta de duas ou três produtoras que capta
oitenta, noventa por centro do dinheiro todo. E nós, o resto, disputando o que
sobra a tapa e dedo no olho. Mesmo assim são duzentas estreias por ano, só no
Rio de Janeiro. E se a distribuição fosse mais equânime? Só podemos conjecturar
se haveria mais estreias ou mais peças por mais tempo em cartaz. Por enquanto,
só conjecturas, só conjecturas.
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