Dois assuntos, de forma rápida, eu ando ou meio sem assunto, ou meio sem tempo atualmente. Primeiro: parece que a crítica Bárbara Heliodora está em vias de aposentar-se. Ué, e por que demorou tanto? Tirando a questão dos males e dos bens (e bota males nessa conta) que essa senhora fez com seus textos sobre o teatro carioca esses anos todos, vai daqui a esperança que não tenhamos que engolir outro dono da verdade daqui pra frente. Um crítico de teatro vale, salvo engano, pelo que vale o jornal onde ele publica. Se o jornal é um só e é O Globo, imaginem o quanto vale essa opinião. Quando eu cheguei no Rio de Janeiro, no final dos anos 70 (**), quem mandava era o Maksen Luiz, porque quem mandava era o Caderno B do Jornal do Brasil. O Maksen escrevia confuso pra burro (ainda escreve) e eu, do alto da minha ignorância alemparaibana de 19 anos de idade, não conseguia atinar porque davam tanta importância ao que ele publicava. Muito mais tarde é que eu entendi: não era problema dele, era problema dele e de quem dava moral a ele (o jornal e os leitores do jornal). Depois o JB virou on line, o Maksen ainda tem um blog onde desfila suas críticas incompreensíveis, mas como ninguém dá bola, acabou-se o problema. Agora essa senhora. Quando o Maksen ruiu de vez, ela (a quem já se dava muita bola) ganhou de presente o lugar. Como na cidade só tem o jornal onde ela escreve (tem uns outros, mas que o pessoal de teatro não dá moral pra esses outros, nem os artistas, nem os espectadores) tudo o que ela escreve de bom ou de mal tende a virar lei (e bota mal nisso). Então, não é um problema dela, é um problema dela e nosso, que lemos, que avaliamos, que recomendamos o que ela escreve. E a opinião que não tem concorrência é a pior ditadura que estamos construindo no Brasil Novo. De repente agora, quando aos cento e noventa e seis anos e vinte e quatro minutos essa senhora cansou-se de brincar de teatro, ou de crítica de teatro, a gente entra numas que a pluraridade de opiniões não faz mal. Quem sabe? Tem aí a internet, falam que a internet está mandando ver. O diabo é que com o nosso instinto de manada fica difícil. Vamos sempre em bando pra um lugar só. Imagina se resolve ir a manada toda de volta pro blog do Maksen outra vez?
O segundo assunto renderá, darei só uma palinha: estive na MEI, tentando abrir uma MEI e me deparei com as idiossincrasias da MEI. Como então a legislação brasileira ainda não percebeu o que é a profissão de ator no Brasil em plenos anos dois mil? Precisa vir um historiador, um sindicalista, um professor de teatro explicar essas coisas pros legisladores. No Brasil, ator com carteira assinada, só tem na TV Globo (e mesmo assim não são todos) e nalgum musical mais entusiasmado. O resto é tudo freela, ou recebe por firma, na base das notas frias, quentes e mornas, ou como conseguir receber que o problema é dele e é cada um por si. Era hora de a legislação dar conta dessa realidade. Não será fácil. Ainda mais que, além do mais, o cara hoje é ator, amanhã é dono da produção, depois da manhã é pintor de cenário, escritor, diretor de cena, encenador, coreógrafo, maquiador, compositor, arranjador e fazedor de cafezinho nas horas vagas.
(**) - Ver comentário de Willian Taranto
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Agora vem uma caça às bruxas. Bem a propósito na data de hoje. Atiram nos pobres dos atores que se manifestam a favor das manifestações. Nem tão pobres assim, reconheço. Alguns a gente não entende o que fazem lá, alguns a gente suspeita que querem outra coisa. Mas é direito deles participar. Ou não? E só por que o cara trabalha pra uma empresa, não quer dizer que ele comungue das opiniões dos donos da empresa. Ou dos pais e avós e amigos dos donos da empresa. É meio absurdo isso. É como chamar de nazista o empregado da Wolkwagen só porque trabalha lá. Já é tão complicada a profissão de ator neste país, agora o sujeito não pode ter opinião? Desconfiar das intenções de um e de outro per si, tudo bem. Mas botar no mesmo saco eu e o Tony Ramos, só por causa da profissão na carteira de trabalho, é injusto com nós dois. Eu então sou mais vendido que o Tony Ramos porque ele pelo menos só trabalha pra uma e eu trabalho pra qualquer uma. E o problema, se me permitem meter a colher, nem é com a Globo. A Globo faz a dela. Ah, eles sonegam impostos. Mas os clubes de futebol também sonegam e ninguém chama o Romário de vendido por causa disso. Ah, mas eles mandam no Brasil. Mas o que não mandaria a Record, o Sílvio, a Band, qualquer uma, se tivesse o monopólio de opinião que a Globo tem? Não seria melhor voltar então os nossos canhões enfurecidos contra o monopólio de opinião? Seja de quem for? É uma covardia bater nos atores, nos cantores, nos biógrafos para defender a democracia. Coragem boa seria bater nos generais, coronéis, capitães e asseclas da última ditadura que, estes sim, em grupos organizados, mataram, torturaram e vilipendiaram os direitos civis, as opiniões e as pessoas deste país.
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