Um amigo me disse que o número de projetos inscritos para a Lei Rouanet diminuiu muito nesse começo de ano. Vou verificar isso. Mas a simples hipótese me provoca uma meia dúzia de ilações. Na verdade, nos últimos anos o número de projetos inscritos na Rouanet vinha aumentando. O número de peças que conseguem patrocínio depois de obter a autorização legal é que não acompanha o ritmo. Talvez as pessoas estejam percebendo que não adianta ter a autorização de captação pela Lei. Precisa ter quem se interesse em patrocinar. Já vimos aqui que a maioria das empresas que patrocinam com mais frequência o teatro utilizando a Rouanet querem projetos estrelados por artistas de televisão. Também a bem da verdade, não sei se é exatamente isso. Se continuamos no Brasil, e parece que é onde estamos, a maioria dos projetos aprovados que consegue dinheiro deve ser a daqueles que conhecem alguém que conhecem alguém que conhecem alguém que conhecem alguém que têm um contato com os patrocinadores. Esses atravessadores são os primeiros de qualquer lista. Os verdadeiros ministros e secretários de cultura são esses senhores que decidem para quais projetos vão prioritariamente as verbas de impostos captados nessas empresas. O que sobra sim, é disputado à tapa por todo o resto e aí certamente o critério de quem tem o elenco mais "estrelado" começa a valer. Daí que é possível que as pessoas tenham se cansado desse troço e esse ano estejam abarrotando os editais com seus projetos na esperança de uma disputa mais "democrática". Não sei se essas pessoas se iludem porque querem ou porque não conseguem enxergar que continuamos no Brasil. Muitos desses editais, com suas comissões julgadoras secretas e sua lista de critérios de avaliação confusas, parecem na verdade uma forma sub-reptícia de repetir o mesmo esquema do favorecimento aos conhecidos dos conhecidos dos conhecidos antes de todo o resto. Mas é possível que amanhã alguém melhore algum aspecto da Rouanet e a enxurrada de projetos volte para o lado de lá outra vez. E vamos assim, seguindo essa maré de idas e de voltas que não levam a lugar nenhum.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
segunda-feira, 26 de março de 2012
Sumiço...
Tenho andado ocupado demais desde a última postagem, não tenho tido tempo de atualizar os números das estréias, temporadas, etc, que embasavam a maioria dos meus comentários. Por outro lado, estou pobre pobre pobre e toma tempo sobreviver. Mas ainda não morri, parece. Estou vendo a bagunça em torno do ISS municipal, vontade de assistir às reuniões, palpitar mais... Mas um pouco já se antevia o problema aqui (eu sou vidente, acreditem!). Não há dinheiro que baste se não houver política que reflita. O teatro mudou, a produção do teatro mudou, a televisão entrou mais forte do que nunca nos últimos anos atraindo milhares de novos atores para o "mercado", gente que não tem onde trabalhar e vai desaguar no teatro, onde inventam projetos, autores, diretores, produtores... Por outro lado, o dinheiro público que começou a entrar e domina a produção de teatro no Brasil fez tudo ficar pelo menos o dobro do preço que era. Ou seja, tem muito mais projetos, muito mais caros e o dinheiro não acompanhou essa marcha (e vai acompanhar como, meu Deus?). Por outro lado, a bilheteria nunca significou tão pouco na contabilidade das produções e nunca representou tão pouco na carreira dos espetáculos (os atores estão ali para aparecer para a televisão, que é onde se ganha destaque e dinheiro de verdade, todos para a tevê, todos para a tevê!!!). A bilheteria caiu não só porque não interessa aos atores que não se interessam em viver de teatro, como por causa da grana ser pública - já que o dinheiro é do povo, o governo quer o povo no teatro (e com razão) e já que o povo é pobre, não se pode cobrar nada muito caro dos pobres. É isso, ou mais ou menos isso, o resto é derivação em cima disso. Se puxar a linha a partir daí o novelo desenrola, se ficar arrumando paliativo pra montar o projeto da vez, não vai dar certo de novo. O sujeito leva dez anos pra conseguir patrocínio pra peça dele, quando consegue fica no máximo dois meses e meio em cartaz (os números, que falta me fazem os números, mas está provado que é isso, ou mais ou menos isso). Se cada brasileiro fizer a sua peça democratiza. O problema é que não tem teatro nem público pra tanta democracia . Mas uns estão ganhando muito dinheiro com a bagunça ("uns", não "dois" nem "três", "uns"!), perguntem a quem está ganhando com a bagunça se quer continuar ganhando ou se quer democratizar alguma coisa.
Assinar:
Postagens (Atom)